Ambiente construído e saúde

Daniela

Ambiente construído e saúde

No mundo todo, as políticas públicas que envolvem o envelhecimento incluem vários fatores determinantes, e mais recentemente têm ganhado destaque a moradia e o ambiente construído. O termo ambiente construído é comumente utilizado na arquitetura, no paisagismo e no planejamento urbano, mas também passou a ser usado na sociologia, antropologia e saúde pública. Como um determinante de estilo de vida e saúde, refere-se a prédios, espaços e produtos criados e/ou modificados pelas e para as pessoas. A relação entre o ambiente construído e a saúde tem sido muito estudada nos últimos anos, com foco em como este impacta em aspectos como níveis de atividade física, obesidade, saúde mental, morbidade e saúde geral da população.

Envelhecimento e ambiente

Modelos socioecológicos de pesquisas têm demonstrado uma ligação funcional das pessoas idosas com os diferentes níveis do ambiente construído, isto é, sua casa, seu bairro e sua cidade. Um ambiente adequado facilita a competência individual e a autonomia do idoso, enquanto um ambiente desequilibrado está ligado a quedas, sedentarismo, falta de interação social, insegurança e isolamento. Então, o efeito do ambiente construído na população idosa precisa ser entendido, uma vez que essa população tende a passar mais tempo em casa e na comunidade do que outros grupos etários da população.

Ambiente construído e saúde física

Vários estudos demonstram que um estilo de vida ativo depende do ambiente construído em que se vive. As pessoas tendem a se deslocar mais a pé quando as calçadas são bem conservadas e existem faixas de segurança para atravessar ruas, e tendem a realizar um lazer mais ativo quando há parques e praças bem cuidadas e seguras. Todos sabemos bem que a inatividade física está intimamente relacionada com o desenvolvimento de doenças crônicas, piora da qualidade de vida e maior mortalidade. No caso da população idosa, então, um estilo de vida ativo é fundamental.

Ambiente construído e saúde mental

A saúde mental da população como um todo, e especialmente dos idosos, é produto de vários aspectos, entre eles a sociabilização, a sensação de pertencimento e de sentir-se útil, além dos aspectos biológicos, evidentemente. Estudos recentes têm evidenciado a importância do ambiente construído, que pode facilitar ou dificultar as interações sociais, a realização de atividades domésticas e a satisfação consigo mesmo em pessoas idosas.

A dificuldade com essas características pode desencadear sintomas depressivos e de ansiedade. Por outro lado, um interessante estudo que analisou como o ambiente impacta o uso de espaços urbanos pelos idosos, concluiu que a segurança, a atratividade e a presença de pessoas de várias idades favorecem a presença deste grupo.

Alguns dados de Santa Maria

No mestrado em Gerontologia da UFSM, também estudamos a questão do ambiente construído. A dissertação de mestrado da aluna Ana Paula Donato investigou as barreiras e facilitadores ambientais e a sua relação com quedas em idosos de Santa Maria. Fizeram parte do estudo idosos de três bairros de Santa Maria, de diferentes níveis socioeconômicos: um de alto poder aquisitivo, outro de médio e um terceiro de baixo poder. Entre as barreiras, as mais citadas foram as calçadas irregulares/malconservadas nos bairros de médio e alto nível socioeconômico e a falta de responsabilidade social/segurança no bairro de baixo poder aquisitivo. Foram citadas, ainda, a acessibilidade inadequada e má conservação das vias públicas, bem como a presença de obstáculos nas vias públicas. Todos estes fatores geram medo de cair e impedem que os idosos tenham um estilo de vida mais ativo e independente.

Estamos pensando nos nossos idosos?

Lembro-me muito vividamente que na minha infância e adolescência, sempre que íamos ao Calçadão Salvador Isaia víamos turmas de senhores conversando, rindo e “observando as moças passarem”. Inclusive dizíamos que era a “turma do cutuca”, pois quando passavam determinadas pessoas, se cutucavam. Noutro dia, minha amiga Paula e eu nos perguntávamos: onde anda a turma do cutuca? Sempre que se visita países desenvolvidos, veem-se pessoas idosas em grupos jogando, se divertindo, lendo, fazendo artes manuais, passeando com animais de estimação em parques e praças públicas. Então, fico me questionando: será que o ambiente construído de Santa Maria oferece espaços adequados aos nossos idosos? Penso que não. Vale lembrar que a população idosa tende a crescer cada vez mais na nossa cidade, como em todo o mundo.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Idoso suspeito de estuprar duas crianças no Bairro Camobi é preso em Santa Maria  Anterior

Idoso suspeito de estuprar duas crianças no Bairro Camobi é preso em Santa Maria 

Oito mulheres que cuidam da segurança dos santa-marienses Próximo

Oito mulheres que cuidam da segurança dos santa-marienses

Geral